domingo, 14 de abril de 2013


MEMORIAL DE EPHIGÊNIO PEIXOTO
Rua Joana Rodrigues da Silva, 120, Jacintinho, Maceió/AL.

Resumo histórico
Inquilinos antigos

Ephigenio Peixoto


INTRODUÇÃO

                    Ephigênio Peixoto nasceu em 11 de junho de 1900, na localidade do Riachão do Cipó, município de Cajueiro, no Estado de Alagoas.
                    Muitas das informações aqui relatadas foram narradas pelo próprio Ephigênio ao seu filho, Francisco José Lins Peixoto, pois nada escreveu sobre sua vida. Para entendermos melhor a origem do Memorial de Ephigênio Peixoto, situado na rua Joana Rodrigues da Silva, 120, Maceió/AL, vamos iniciar apresentando o resumo histórico do município de Atalaia, obtido na internet através da Enciclopédia Livre “Wikipédia”:
            A ocupação das terras onde hoje situa-se o município de Atalaia inicou-se por volta de 1692 por Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista contratado pelo então Governador da Província de Pernambuco Fernão de Souza Carrilho para destruir o Quilombo dos Palmares. Domingos Jorge Velho havia recebido do governo português a promessa de uma sesmaria (seis léguas de terra), como recompensa pela destruição do Quilombo dos Palmares. Com a destruição de Palmares, e a consequente morte de Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695 o bandeirante esperou o cumprimento da promessa, e se estabeleceu no atual bairro da Cidade Alta, de onde ficava de vigilância (atalaia), durante a luta contra os negros palmarinos. O bandeirante batizou a nova povoação de Arraial dos Palmares.
Lá, por volta de 1697, Domingos Jorge Velho mandou construir a Capela de Nossa Senhora das Brotas - a primeira edificação de Atalaia - santa que considerava como sua protetora. Esta é ainda hoje a padroeira de Atalaia. Para tentar agradar à Coroa Portuguesa, Domingos Jorge Velho lhe envia carta comunicando o desejo de que a povoação iniciada por ele passasse a se chamar Vila Real de Bragança, para que a mesma ficasse sob a proteção da Casa de Bragança, para que mais rápido se desenvolvesse. Porém, o pedido foi negado por D. José I. No final de 1700, Domingos Jorge Velho morre sem, no entanto, receber da Coroa Portuguesa o decreto de doação da sesmaria. Apesar do crescimento da povoação, o Arraial dos Palmares não era reconhecido pelas autoridades. Somente em 12 de março de 1701, o Governador da Província de Pernambuco recebe Carta Régia determinando a criação oficial do arraial, porém com o nome de Arraial de Nossa Senhora das Brotas. No entanto, este nome não caiu no gosto dos habitantes, permanecendo os habitantes utilizando a denominação Arraial dos Palmares. Somente em 1716, os filhos e a esposa de Domingos Jorge Velho recebem o decreto que doa a sesmaria onde hoje localiza-se Atalaia, como recompensa pela destruição dos Palmares.
Durante o governo do 10.° Ouvidor da Província de Alagoas, Manuel Álvares, os habitantes do Arraial dos Palmares, por seu intermédio, solicitaram ao governo português a elevação do arraial à categoria de vila. D. José I atendeu em parte às reivindicações da população, elevando o Arraial dos Palmares à categoria de vila, porém, com o nome de Vila de Atalaia, em homenagem ao Conde de Atalaia, seu amigo particular. Este decreto data de 1 de fevereiro de 1764, considerada a data de sua fundação. Foi a quarta vila criada em Alagoas, depois de Porto Calvo, Marechal Deodoro (antiga Alagoas) e Penedo.

Usina Brasileiro

O desenvolvimento da economia açucareira alagoana aumentou em 1892, com a construção da 1ª usina de açúcar em Alagoas – a Usina Brasileiro – instalada no município de Atalaia, por uma firma particular e sem a ajuda do governo. Seu fundador foi o francês Baron du Saint Siége Félix Eugène Wandesmet, o Barão de Vandesmet, e como era conhecido. Félix Wandesmet era Cônsul da França no Brasil. Dono de grande poder econômico construiu a usina em Atalaia ao mesmo tempo em que construía no Pilar uma destilaria de álcool, cuja matéria prima – o mel – era fornecida pelos engenhos de açúcar daquele município e de Atalaia.
Além de possuir grande tino administrativo era o industrial francês um inovador, criador de novas técnicas. Foi o primeiro a usar em Alagoas a irrigação de fazendas através de motor a gás pobre (lenha). Instalou um telefone à manivela para a sua comunicação entre a usina e Atalaia. Introduziu em Alagoas as variedades de cana de açúcar: Demerara, Barbados e White Transparent. Teve a usina várias denominações “Usina Brasileiro Félix Wandesmet” desde a sua fundação até 21 de outubro de 1922, quando passou a se chamar “Usina Brasileiro Wandesmet & Cia”. A sua primeira moagem se deu a 18 de janeiro de 1892, debaixo de grande regozijo para uns e tristezas para outros – os Senhores de Engenhos – que viram ruir de repente o seu poderio, tornando-se destarte, simples fornecedores.
A sua instalação primitiva coube à responsabilidade do mecânico João Siqueira, pai dos jornalistas atalaienses Valdir e Valmir Calheiros de Siqueira. Montada inicialmente com um motor de 90 HP e 8 turbinas, sofreu reformas em 1905 passando a moendas de tríplice pressão – três motores de explosão a óleo diesel, de fabricação inglesa (Blackstone) e dois de fabricação tcheca, (Esokad) comprados a COTRIMONTE. A instalação destes motores coube ao mecânico João Monteiro Malheiros, conhecido por João Dezenove, por ter perdido um dedo da mão por acidente.
Na primeira moagem a safra foi de 4.000 sacas de açúcar, atingindo posteriormente a mais de 300.000. O açúcar seguia para o Pilar, e daí, em embarcações lacustres, para o porto de Maceió. Moeu pela ultima vez na safra de 1957/58 com uma produção de 36.562 sacas de açúcar demerara e 700 de açúcar cristal. O local onde foi instalada a usina, a menos de dez quilômetros da cidade, tornou-se um grande centro populoso, na época, e até se tornou ponto turístico, pois muitos vinham ver a “usina do francês” ou a “industria do Barão”. A localidade possuía uma feira livre aos sábados e domingos que atraia comerciantes de outros municípios.
O progresso desta usina foi tão grande no tempo do seu fundador que foi considerada a de maior produtividade, na época em todo país. O entusiasmo do Barão dinamizou a vida socioeconômica e cultural de Atalaia. As festas natalinas que ali se realizavam atraiam gente de quase todo Estado. Os vagões de trem da usina eram postos à disposição para o seu transporte. Neste período o folclore em Atalaia tomou grande impulso, vivendo a sua fase áurea, especialmente o guerreiro, a chegança, a cavalhada e pastoril. Morreu Félix Vandesmet em 1932, na usina Brasileiro.
Com a morte do Barão a usina passou a ser administrada por Paulo Decapot e o engenheiro Oscar Berard, sendo dois dos seus seis filhos, Malembranche e Agenor Berard Carneiro da Cunha, os maiores mandantes. Em 1933, Oscar Berard, já dono da Usina Rio Branco (União Agrícola Usina Rio Branco), conhecida por Usina Estrada Branca, por ficar situada no povoado Estrada Branca, deste município, comprou a Usina Brasileiro. Em 1941, Grupo Celso Piat e Carlos Piat compra a Usina Brasileiro. Não safrejou nem uma vez nas mãos deste grupo; havia muitos credores e a negociação ficou pendente. Em 1942, entra em litígio. Em 1965, os Berard requerem ação de sequestro e a justiça concedeu, nomeando um depositário judicial, o Sr. Antonio Carlos de Morais. O Banco do Brasil foi um dos seus grandes credores depositários.
Em 1º de dezembro de 1933 passa a usina às mãos dos Berard e a firma muda para Usina Brasileiro Oscar & Cia”e em 1941 já em poder do Grupo Piat, denominou-se “Usina Brasileiro de Açúcar e Álcool S.A.” com o qual chegou a seu fim em 1958. Conta-se que logo após a morte do Barão as coisas mudaram para os operários. Eles passaram a ser mal remunerados e demitidos em massa. Um destes sofredores vaticinou: “de agora em diante esta usina há de crescer como borracha no fogo, e o seu telhado há de ser coberto de mato”. Além da Usina Brasileiro, Atalaia possui outras cinco usinas açucareiras: a Usina Uruba, fundada em 1907 pela Família Peixoto, vendida em 1976 para o Grupo João Lyra, é a única ainda em funcionamento no município; a Usina Ouricuri, no povoado de mesmo nome, fundada em 1921, pertencia a tradicional família Tenório, faliu em 1991; a Usina Vitória do Cacaú, da família Moarais, em 1956, moeu apenas por duas safras; as Usinas São José e Rio Branco, dos irmão Decaport, que fecharam as usinas quando compraram a Usina Brasileiro.
                                                                 
            O texto acima tem muito a ver com a vida de Ephigênio Peixoto, pois o seu pai, meu avô, foi segurança da Usina Brasileiro e muito estimado pelos Wandesmet. Conta-se que ele tinha muita força física e muito controle emocional. Segundo meu pai, o meu avô, que tinha a alcunha de “José Nenen”, teve uma congestão ficando parcialmente inválido. Por isso Ephigênio, com apenas 8 anos de idade, teve que assumir a família trabalhando nos triplos efeitos da usina, ao lado dos adultos. Ele tinha 3 irmãs: Maria, Olívia e Carmelita, e 1 irmão. A Olívia e o irmão faleceram ainda muito jovens. José Neném tinha uma maneira sua de se dirigir aos seus interlocutores, dizendo calma e pausadamente: “Hein sinhô”. Uma vez vieram chamá-lo porque um negro forte estava provocando brigas. Ele foi ter com o algoz e disse: “hein sinhô, para eu lhe dar umas tabicadas, precisa me adular?”. O mesmo aconteceu com o próprio irmão dele: vieram dizer a ele que o irmão tinha tomado umas cachaças e fechado a rua. Meu avô procurou calmamente uma boa vara no mato e foi ter com o irmão valente. Deu-lhe uma surra daquelas, a ponto do irmão sair da cidade e até hoje não se sabe o destino dele. Zé Nenen tinha a fama de bom atirador, se bem que meu pai garantiu que ele nunca atirou numa pessoa, pois bastava um aperto de mão para o sujeito desistir de enfrentá-lo. Assim meu pai narra que ele sempre tinha caça para comer e que viu uma vez ele atirar num pássaro em vôo e acertou. Outra história que meu pai sempre contou com convicção foi o dia em que vieram convocá-lo porque um touro estava atacando tudo que via pela frente, a ponto das portas das casas ficarem fechadas e todos se escondiam. Ephigênio conta que sempre estava ao lado de seu pai e assim segui-o até o lugar onde estava o animal, escondendo-se num local seguro, mas de onde podia ver tudo. O touro partiu na direção do José Nenen e este esperou até o mesmo chegar a uma distância conveniente, então disparou um único tiro e o animal veio cair quase a seus pés. Outra façanha do Zé Nenen foi o casamento com a Chiquinha. O futuro sogro disse que primeiro casaria a mais velha, e era o costume da época, audaciosamente ignorado pelo meu avô.
            Como não disponho de documentos, tenho que recorrer à memória e a deduções a partir de alguns dados. Por exemplo, meu avô faleceu quando eu tinha cerca de 2 a 3 anos. Isso porque meu pai me suspendia sobre a cama onde estava meu avô, já completamente sem movimentos, para que ele pudesse ver o neto. Isso para mim era extremamente desagradável. Como nasci em 1945, calculo que meu avô faleceu em 1948, aproximadamente. Meu pai sempre afirmou que José Nenen falecera com 82 anos, logo ele deve ter nascido por volta de 1866. Então ele tinha a idade de 26 anos quando a Usina Brasileiro foi inaugurada, o que é bastante razoável, inclusive formou família a partir daí, já que Ephigênio nasceu 8 anos após e a irmã mais velha, Maria (Nenzinha), nascera um pouco antes. Uma vez perguntei a meu pai se éramos descendentes de Floriano Peixoto. Ele respondeu taxativamente que não, acrescentando que meu avô viera de Garanhuns. Ainda não visitei as ruínas da usina, nem fui a Garanhuns em busca de batistérios nas igrejas, mas ainda tenho esperança de obter algumas informações fidedignas. Essa irmã mais velha casou com um cidadão conhecido por “Né”, que não tinha boa saúde. Não tiveram filhos e logo ela ficou viúva. A sogra dela tinha muitas terras e muitos filhos, porém naquela época a viúva só herdava se tivesse filhos. Isso era motivo de pequenas discussões com minha mãe, que sempre dizia: “Ephigênio, deixa as coisas dos outros para lá”, até que ele nunca mais falou no assunto. Algumas histórias ele ainda contou da época de sua infância e adolescência, como por exemplo: Ele falava com muita alegria de como as freiras francesas da usina o ensinou as 4 operações, a ler e escrever manuscritos. Ele fazia questão de contar que elas sentavam e forravam com o hábito a grama para que ele pudesse se deitar. Uma vez um senhor idoso e conhecido dele quebrou completamente o carrinho de brinquedo dele, mas ele aprendera dos pais que era obrigado a respeitar os mais velhos e ao mesmo tempo achou que o velho queria testá-lo. Então ficou quieto e foi para casa. Dias depois, o velho o presenteou com outro carrinho muito melhor do que o que quebrara e ainda o elogiou. Ele contou também que o irmão mais moço era muito brabo chegando um dia a atirar um carvão de locomotiva e atingindo Ephigênio num dos olhos, quase o cegando. Assim meu pai se consolava dizendo: “Foi melhor Deus o ter levado ainda criança”. Meu pai sempre dizia que não confiava em boi, pois é o animal mais ligeiro que já vira. Uma vez ele estava na cerca de um curral com outras pessoas e um senhor chamado Porongaba, já alcoolizado, subiu na cerca para enfrentar o boi que ali estava. Todos pediam para que ele não fizesse isso. Ele estava pronto para pular para dentro do curral quando o boi partiu e só se viu a freada dele junto á cerca. O velho Porongaba deu um urro e desmaiou. A sorte é que ele caiu para o lado de fora.


A vinda da família para Maceió

            Após a narração dele sobre assumir a família com a idade de 8 anos e a vinda para Maceió demorou aproximadamente 1 década, quando ele atingiu a maioridade. È certo que não ficou trabalhando na usina o tempo todo, uma vez que ele contava que fazia de tudo, fazia sapatos, cuidava de cabras, plantava etc. Aqui em Maceió, ele já tinha um primo bem situado, Oscar Peixoto, que tinha uma vacaria no vale do Reginaldo. Outro motivo para minha mãe incutir a idéia de que ele não devia contar com as coisas dos outros, pois meu pai se lamentava porque esse primo rico não o ajudou, mas minha mãe sempre conseguia demovê-lo desses pensamentos e ele acabou não falando mais do assunto. O pai do Oscar Peixoto morreu devido ao alcoolismo, portanto todos eram alcoólatras, inclusive meu avô, que deixou completamente a bebida depois da congestão. Ephigênio contava que um dos tios dele, já no leito de morte, pediu aos parentes que o circundavam que trouxesse uma bacia com cachaça para lavar os pés. Esse pedido não foi atendido porque se sabia que a finalidade era outra. Parece que isso tudo foi suficiente para meu pai tomar a decisão de nunca consumir bebida alcoólica ou cigarros. Mais concretamente, eu aceitei esse ensinamento dele.
            Em Maceió, ele foi trabalhar com uma carroça de burros e lidava com o animal magistralmente. Conseguiu uma casa velha e mal-assombrada para dormir, apesar de todos dizerem que ninguém ficava ali. Ele se acomodou para dormir e lá pelas tantas da noite ouviu um barulho forte e estranho em cima da casa. Acendeu o candeeiro e subiu numa escada para ver o estava acontecendo por cima do forro da casa. Era apenas um casal de cassacos no cio. Acho graça e voltou para dormir. Apesar de não ter a cronologia dos fatos, ele conta que o último trabalho foi na Companhia dos Bondes de Maceió, na Praça Sinimbu. Começou como ajudante nas oficinas e terminou como motorneiro. Uma aventura nessa profissão foi que ele atropelou um cidadão e este foi ficar encolhido bem próximo à roda do bonde, depois de freado. Ephigênio foi ver e pediu para que ele não se mexesse. Foi buscar o macaco, levantou o bonde naquele ponto e o homem saiu ileso. Outra vez um passageiro insatisfeito começou a desafiá-lo para a briga, mas meu pai disse para ele: “Negro, quem te come é a onça” e se evadiu. Os circunstantes cuidaram de segurar o agressor. Meu pai sempre dava esse conselho – nunca se envolver com coisas inúteis. Outra história é a de uma passageira na linha de Bebedouro. Era noite e o bonde estava em alta velocidade. Quando meu pai olhou para trás, ela não estava mais. Era a única passageira naquela hora. Ele seguiu para o fim da linha e quando retornava viu uma multidão obstruindo a linha do bonde no local onde a mulher desaparecera. Ele não pensou duas vezes, puxou o manche do bonde para a velocidade máxima produzindo um ronco característico e avançou. Quando chegou perto, só viu gente pulando para todos os lados e só parou quando chegou à garage. Depois ele soube que a mulher se desculpou dizendo que tudo passava tão rápido que admitiu já ter passado do local onde morava e num gesto desvairado pulou do bonde. Ele explicava que no início a graduação da velocidade era em 8 pontos, que depois passou para 12 pontos, porém com velocidade final bem menor que a anterior. Nessa companhia, ele fez vários amigos. De um deles ele comprou uma bicicleta importada e muito antiga, aro 28, na qual ele me levou á Fernão Velho para um passeio. Esse amigo chamava-se Gila e nós sempre o visitávamos na esquina da Rua da Arueira com a Buarque de Macedo.
                     

O Departamento dos Correios e Telegrafo (DCT)

            Ele se preparou para o concurso público para os correios de Maceió, em 1925, que exigia o que ele mais sabia fazer: as 4 operações e a leitura de manuscritos. O resultado é que foi aprovado em segundo lugar. A partir daí a sua vida deve ter mudado completamente. Em 1928, ele obteve a escritura pública de uma casa à rua Cap. Samuel Lins, 180, bairro do Farol, onde foi morar com sua mãe, Francisca Machado, uma irmã de sua mãe, Clarinda Machado, solteirona, e sua irmã viúva, Nenzinha, com mais duas moças que a irmã criava: Ivonete e Doralice. Ele disse que pelo menos teve uma vantagem, a de ser sumariamente descartado de ir para a guerra por ser arrimo de família.  
            Nessa época, começou a se delinear os limites do sítio, a partir de algumas posses que ele foi aos poucos adquirindo, ou seja, casas de palha de pessoas que queriam sair dali. Começou a arrancar os tocos e preparar a terra onde plantou inicialmente cerca de 450 jaqueiras e 350 mangueiras. Ele conta que nasceu um filho seu, Benedito, mas que logo faleceu. Meu avô ia para o sítio e trabalhava o dia todo até voltar para a casa 180, da Rua Capitão Samuel Lins, ao anoitecer. Na década de 30 ele tentou um relacionamento duradouro com outra pessoa e nasceu o meu irmão, Luiz Peixoto, mas essa companheira o rejeitou. Então ele foi procurar uma esposa na fila da comunhão da igreja do Rosário e encontrou minha mãe. Já havia parte da casa grande do sítio construída: sala, quarto pequeno, sala de jantar, cozinha e banheiro. Eles se casaram em 1940. Minha mãe, filha de senhor de engenho, residente num sítio que ia da av. Fernandes Lima à rua dos Capuchinhos, foi morar no Jacintinho com um ex-carroceiro. Essa foi uma das grandes virtudes de minha mãe – a simplicidade de alma e coração. Ela nunca teve empregada doméstica. Em 1943, nasceu minha irmã, e eu em 1945. Já encontramos a casa com mais um quarto e uma sala grandes, No quarto grande dormia o casal, numa cama de amarelo vinhático que pertencera a minha avó materna. A sala grande era o escritório do meu pai e onde eu dormia. O quarto pequeno ficou para minha irmã. Convivemos com esse hábito de trabalhar que ele tinha, levantando-se antes do sol nascer, chegando do correio já com as cartas distribuídas antes do almoço e trabalhando o resto do dia no sítio. Passou a construir sempre mais um casebre de taipa e cobertura de palha em volta do sítio. O aluguel era semanal e servia para ele ir comprando telhas e tijolos, que aos poucos ia melhorando os aluguéis.
            Mostramos quatro documentos de Ephigênio Peixoto referentes à atividade de carteiro em Maceió, fornecidos pela minha irmã, Rita Eugênia Peixoto Braga. Esses documentos estão em forma de anexos no final deste volume. O primeiro deles, de 22 de março de 1927, trata da nomeação de Ephigênio Peixoto para o cargo de carteiro de segunda classe, nos seguintes termos:

GABINETE
DO
MINISTRO DA VIAÇÃO
249



                                                                       Rio de janeiro, 22 de março de 1927



                                   Sr. EPHIGÊNIO PEIXOTO

                                   Em resposta à vossa carta de 7 de janeiro último,
o Sr. Ministro manda que vos comunique haverdes sido nomeado
carteiro de 2ª. Classe da Administração postal desse Estado,
conforme havíeis requerido à S. Exa.

                                                                       Saudações

                                                                  Hermes Fontes

                                                              Oficial de Gabinete








            O segundo documento trata de uma licença para tratamento de saúde, datada de 16 de janeiro de 1937, nos seguintes termos:


DEPARTAMENTO DOS CORREIOS E TELEGRAPHOS



            O Director do Pessoal usando da attribuição que lhe confere o art. 26, n.4, do Regulamento approvado pelo Decreto n.20.859, dee 26 de dezembro de 1931, resove

conceder seis mezes de licença, para tratamento de saúde, ao carteiro de segunda classe da Directoria Regional dos Correios e Telegraphos de Alagoas – EPHIGÊNIO PEIXOTO – com vencimentos, nos termos do artigo 1o, paragrapho único, do Decreto n.42, de 15 de Abril de 1935, com o praso de 30 dias para ser iniciada.


                                               Rio de Janeiro, 16 de Janeiro de 1937.





“ 69.683/36”
            AN








            O terceiro documento é o seguinte:


                                                           O Presidente da república

                                                           Resolve, de acordo com o art. 1o,in fine,
                                    das Disposições Transitórias da lei no 284, de 28 de ou-
                                   tubro de 1936, expedir o presente decreto a EPHIGENIO
                                    PEIXOTO, que exerce, effectivamente, o cargo de carteiro
                                   Da classe “D”, do Quadro XXVII do Ministério da Viação e
                                   Obras Publicas, cargo este anteriormente denominado Car-
                                   Teiro de 2ª. Classe da Directoria Regional dos Correios
                                   E Telegraphos de alagoas, para o qual fora nomeado em
                                   29 de Janeiro de 1927.
                                                           Rio de Janeiro, em 29 de janeiro de
                                   1938, 117o da Independencia e 50o da Republica.




                                   Referencia: Processo n. 21481 de 1937.







O quarto documento trata de uma promoção:


                                   O Presidente da Republica:
                                   R E S O L V E promover por merecimento, de
            Acordo com o artigo 47 do Decreto-lei n. 1713, de 28 de outu-
            bro de 1939,           Efigenio Peixoto                          do
            cargo da clase D da carreira de carteiro, do Quadro III – Par-
            te Suplementar – do Ministério da Viação e Obras Públicas ao
            cargo da classe E dessa carreira, vago em virtude da aposenta-
            Doria de Oswaldo da Costa.
                                   Rio de janeiro, em 31 de agosto de
            1944; 123o da Independência e 56o da República.





            Referência: processo n. 21283 * 21.SET.1944
                        EPS/TSS/15.








Inquilinos Antigos





Edna, inquilina da casa 40, da rua Triunfo.


Edna e José em Jacarecica, no dia 18/03/12.


            Edna foi inquilina da casa 40 da rua Triunfo. No dia 18/03/12, me dirigi à casa da Dudé (irmã da Edna), na rua Triunfo. A Dudé indicou a casa de sua filha, Dirlene, e o neto, Neno, nos conduziu até à casa da Dirlene, na rua São Francisco. Ela chamou seu filho, Diego, para nos levar à casa da Edna. O outro filho dela, Diogo, com 18 anos de idade, convive com uma companheira que tem 3 filhos e está esperando outro filho. Fui acompanhado também do José, irmão da Josilânia, que aparece na foto com a Edna. Ela contou que nasceu em 20/09/46, tem 2 filhos portadores de deficiência, 2 filhas gêmeas e mais outro filho. Em 1964 ela se juntou com um companheiro e foi morar na casa 40 da rua Triunfo. Foi abandonada pelo companheiro e continuou morando só. Mudou-se para próximo de sua irmã, Dudé. Todos os seus filhos nasceram depois que ela saiu da casa 40 da rua Triunfo.
            No dia 30/12/12, estivemos novamente em sua residência e tiramos fotos do seu filho caçula, Williams José dos Santos, nascido em 13/07/88, da sua filha Aldenisse Maria da Conceição Salvador, nascida em 24/08/77. Estava também na residência uma neta da Edna, Joyce, filha da Aldenir. O primeiro filho, Marcos Antônio Salvador (09/07/74), tem 5 filhos e foi adotado por Edna. O mesmo ocorreu com Márcio Antônio Salvador (24/12/86), que reside no bairro do Eustáquio Gomes.
            A nossa pesquisa visava determinar o período em que Edna foi inquilina da casa 40 da rua Triunfo e obtivemos a primeira informação, da própria Edna, de que ela chegou na casa em 1964. No dia 31/12/12, estivemos na Trav. Triunfo, antigo “Beco da Febre” e encontramos D. Amara. Ela disse que Edna residiu na casa 51 dessa Travessa e que está bem lembrada do nascimento do Marcos Antônio Salvador pois seu filho, também Marcos, nasceu no dia 29/06/74, e que poucos dias depois nasceu o filho da Edna. Ela também disse que, tempos depois, a Edna veio morar na casa 114 dessa Travessa. A filha Aldenisse afirma que fez aniversário de 13 anos quando morava na rua Júlio Alto, potanto em 1990, e que em seguida foi morar na casa do sr. Antônio “Corcunda”, onde administraram um bar. O ex-vereador comunitário, Benício, residente na rua Triunfo, confirmou que o companheiro da Edna era um pedreiro, Manoel Antônio Salvador, conhecido pela alcunha de Manoel “Urso”, faleceu quando o casal morava provavelmente na rua S. Bento. Edna também informou que morou nessa rua, próximo à padaria BomSucesso. Conversando com D. Severina, vizinha da Marluce no Beco da Febre, ela confirmou que o casal Edna e Manoel residiram no Beco da Febre.




Maria Anunciada da Silva(Lena), filha do Manoel “jardineiro, foi inquilina nas casas 8 e 28 da rua Triunfo.




            Em 14/05/12, fomos até à sua residência, no Conj. Hélio Vasconcelos, Q. 15/71, bairro do Forene, onde ela relatou um pouco de sua convivência nas casas de aluguel de Ephigênio Peixoto.
            Segundo a mesma, o seu filho, Rubens, nasceu em 1963, na casa onde residia os pais da Maria Anunciada. Nessa mesma casa nasceu em 1965 o seu segundo filho, Sérgio. Vilma. e Marcelo nasceram em 1968 e 1970, respectivamente, na casa 8 da rua Triunfo, que era alugada ao sr. Ephigênio Peixoto. O seu quinto filho, Marivaldo, nasceu em 1971 na casa de número 28 da rua Triunfo, também alugada ao sr. Ephigênio Peixoto, e onde reside atualmente a inquilina Maria Antônia. Por último, nasceu a sua filha Marcileide, em 1972, na usina Bititinga. Em 1973, ela voltou a alugar a casa 8 onde permaneceu por cerca de 2 anos. Ainda em 1976 e 1977, ela alugou a casa 20 da rua Triunfo, também pertencente ao sr. Ephigênio Peixoto.
            Nos anos de 1971 e 1972, Helena lavava roupa para a filha do sr. Ephigênio, Rita Eugênia Peixoto Braga, na residência da mesma, à rua Cônego Machado, 717, Farol.




Visita ao casal Sônia e Valdenor – 04/07/12


            Este casal reside na Rua Joana Rodrigues da Silva, 209, no imóvel que pertencia aos antepassados de Sônia. A mãe do Valdenor veio de Riacho Doce para morar no Jacintinho na década de 1950. O que se apurou numa visita ao casal no final da tarde do dia 04/07/12 é que Cícera Maria da Conceição, mãe de Valdenor, residiu na casa de número 26-B da Rua Triunfo, onde atualmente está ocupado pelo nosso inquilino José Sampaio.
            Sônia, nascida em 04/11/52, contou que já namorava Valdenor quando ela tinha 12 anos de idade. Nessa época, ela já visitava a futura sogra na casa de número 26-B da Rua Triunfo, portanto isso corresponde ao ano de 1964. Valdenor, nascido em 12/02/43, casou-se com Sônia em 11/07/72 e foi morar no outro lado da Rua Triunfo, próximo à residência atual do casal Carlos e Ana. Ela lembra que sempre visitava a sogra do outro lado da rua. Ali nasceram os seus primeiros 3 filhos: Jackson (12/05/73), Maria da Conceição (29/06/74) e Jardi (02/05/75), sendo que este último faleceu 2 dias após o nascimento.
            Conclui-se do exposto acima que esta inquilina de Ephigênio Peixoto residiu na casa de número 26-B da Rua Triunfo pelo prazo de, pelo menos, 11 anos. No dia da entrevista, chegou ao local uma irmã de Valdenor, Maria José de Carvalho (Zeza), nascida em 01/03/62, que confirmou os depoimentos de Sônia e Valdenor. Respondendo à nossa pergunta, Sônia, Valdenor e Zeza disseram que todos os inquilinos pagavam os aluguéis a Ephigênio Peixoto e não havia dúvida quanto a isso. Zeza acrescentou que as vezes ia levar o dinheiro do aluguel da casa 26-B na residência do proprietário, quando tinha cerca de 8 a 10 anos de idade, e que só deixava o dinheiro se ele entregasse o recibo imediatamente. Relatou que tivera diversos incidentes com o proprietário porque gostava de andar no sítio e subir nas árvores.
            Eles também disseram que um senhor chamado Ismael, morou na casa de número 40 da Rua Triunfo na qualidade de inquilino de Ephigênio Peixoto, durante muitos anos. Confirmaram também conhecer maria Anunciada da Silva (Lena), filha do Manoel Jardineiro, e que esta residiu nas casas de números 8 e 28 como inquilina.



O casal Manoel e Tereza, e Ramos, foram inquilinos nas casas do sítio.




            Manoel e Tereza negociam com frango abatido na hora, além de um mercadinho. Eles disseram que foram inquilinos de Ephigênio Peixoto na rua das Jardineiras. O irmão de Tereza, José Ramos, foi inquilino na casa 114 da rua Joana Rodrigues da Silva. Ela disse ainda que quem recebia os aluguéis era o ex-engenheiro da CEAL, Talvanes Silva Braga, genro do sr. Ephigênio Peixoto.





Cleide, irmã do Giovani, foi inquilina na casa 120.




            No dia 03/05/12, confirmei com o Giovani, em sua residência, à rua Joana Rodrigues da Silva, 63, que sua irmã, Cleide, foi inquilina na casa 120 da rua Joana Rodrigues da Silva. D. Rosa, que é vizinha do Giovani (casa 67 A da foto) confirma que foi vizinha da Cleide, pois também foi inquilina de Ephigênio Peixoto na casa 114 da rua Joana Rodrigues da Silva. Ela inclusive cita detalhes dos pagamentos dos aluguéis, como por exemplo: ela pedia um coco quando ia pagar o aluguel, mas Ephigênio dizia que os cocos eram para vender e nunca deu um coco a ela. Disse também que as vezes atrasava um pouco o pagamento e Ephigênio logo pedia a casa, mas ela insistia que ia pagar e ele dava mais um prazo.


                   


Quitéria Fidelis Souza da Silva, filha dos inquilinos da rua Triunfo, 8


            Quitéria reside em São Paulo, mas tem vindo à Maceió por causa do estado de saúde de seu pai, Manoel Fidelis, que veio a falecer no dia 17/01/13. Quitéria confirmou que seus pais moraram também como inquilinos na casa vizinha á casa 14 da rua Joana Rodrigues da Silva. Ela conta que conheceu Ephigênio quando ela era ainda criança. O irmão dela, Daniel, que também mora em São Paulo, disse que seus pais foram inquilinos na casa 40 da rua Triunfo, além dessa casa, eles também foram inquilinos na rua Joana Rodrigues da Silva e, finalmente, na casa 8 da rua Triunfo, onde seu pai veio a falecer. Ele disse que seus pais chegaram aqui quando ele tinha 6 ou 7 anos. Como ele tem atualmente 49 anos, deduz-se que os pais alugaram a casa 40 por volta de 1970.







Alaíde, filha de D. Rosa, ex-inquilina da casa 114 da rua Joana Rodrigues da Silva.



            Alaíde esteve em nossa casa em 16/01/13 e confirma que sua mãe foi inquilina de Ephigênio Peixoto na casa 114 da rua Joana Rodrigues da Silva.
            Ela disse que se casou em 1974 e foi morar na casa da Juraci, na rua Triunfo. A casa da Juraci é a atual casa do sr. Domingos. A filha nasceu em 02/12/75. Nessa época sua mãe foi morar na casa 114 da rua Joana Rodrigues da Silva. O filho nasceu em 1982 e tinha 4 anos quando ela foi morar na Chã da Jaqueira, portanto ela se mudou do Jacintinho para a Chã da Jaqueira em 1986. Ela disse também que houve uma outra inquilina, D. Amália, que morou numa casa próxima à da mãe dela (casa 114). Esta Amália fretava ônibus para o Juazeiro e atualmente mora no Reginaldo.
            Alaíde também morou na casa da Bibi, na rua Triunfo, e quando a filha dela tinha 3 anos (1977 ou 1978), ela vinha brincar na casa da avó, que era inquilina da casa 114 da rua Joana Rodrigues da Silva. Isto confirma a lembrança do Giovani de que ele fazia um curso no SENAI, nessa época, quando sua irmã foi inquilina da casa 120 da rua Joana Rodrigues da Silva. D. Rosa, mãe de Alaíde, foi a primeira a dizer que a irmã do Giovani, Cleide, foi vizinha dela quando ela estava na casa 114.





Rita e Amália, inquilinas da casa 120, rua do Arame



            No dia 13/04/13, ao ficar vigiando a alvenaria feita na casa 14, pois alguém já havia demolido, aproveitando a nossa hora de almoço, o que havíamos feito na parte da manhã, pude conversar com a vizinha que mora em frente á casa 14 da rua do Arame. Ela nos contou que quando morou na casa 114 teve como vizinhas Rita, Amália e Cleide. Apesar de ainda não ter me entrevistado com a Cleide, já se considera um caso confirmado por ser irmã do Gil e pela abundância de testemunhos. Pretendemos entrevistar familiares da Amália, pois já temos o número do telefone de um filho dela. No caso da Rita, pudemos já localizar alguns parentes, isso facilitado por ela ser irmã do Paulo “soldado”, muito conhecido popularmente. No dia 14/04/13, falei com o Manoel “dos porcos” e ele confirmou a existência da Rita, nos fornecendo o endereço de um dos filhos dela, Pedro (Peu), que mora próximo à nossa casa. Passei na frente da casa dele e vi uma senhora lavando a calçada. Ela me informou que era cunhada do Pedro e que a Rita ainda estava viva, embora tenha amputado as duas pernas. Ela ainda disse que uma irmã do Pedro, também chamada Rita era dona de uma escolinha na rua Manoel Porciúncula, Jacintinho. Assim iremos continuar nossa pesquisa, colocando aqui os resultados para consulta de todos.



 Comentário do autor: Esse texto encontra-se em elaboração, mas adiantamos o que já está pronto para que os interessados possam colaborar de alguma forma, seja enviando correções ou acréscimos para franjolipeixoto@hotmail.com

2 comentários:

  1. Olá Francisco. Quero primeiramente dizer que gostei bastante da leitura, principalmente das primeiras partes.
    Gostaria de deixar o que seria algumas pequenas contribuições. O último parágrafo sobre a Usina Brasileiro é um tanto confuso com a sequência dos fatos fora da ordem cronológica.
    Depois, quando você narra a vinda de seu pai à Maceió, não fica claro que junto a ele vieram seu avô, avô, tias e outros. Estes fatos só se esclarecem nos parágrafos seguintes. Eles poderiam ser mencionados antes, pois ao ler, fiquei me perguntando o que acontecera com eles após a vinda de seu pai.

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    1. Ah, mais uma coisa. O texto sobre os inquilinos é um tanto cansativo, pois apresentam rapidamente muita gente. Mas acho que não há muito por fazer, e penso que eles fazem bem seu papel histórico.

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